Por Carlos E. Morimoto. Publicado 10 de novembro de 2010 às 15h35
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Players de áudio e servidores de som
Os players de áudio são uma das áreas de aplicativos Linux em que existem mais opções. Existem vários motivos para isso, que vão desde a relativa facilidade em desenvolver novos aplicativos (afinal, o sistema já inclui os drivers e as bibliotecas que fazem o trabalho pesado, faltando apenas a interface e os componentes adicionais que o desenvolvedor deseje incluir) e o fluxo constante de novas ideias com relação à organização das músicas e à conectividade com iPods e outros dispositivos e também com serviços online.
Um dos melhores representantes dessa nova safra é o Amarok. Ele é um player de áudio de "nova geração", que trabalha com um conceito de organização de arquivos diferente do usado em programas mais antigos com o XMMS e o WinAMP. Ao invés de simplesmente colocar alguns arquivos ou pastas em uma playlist, você cria uma "coleção" contendo todas as suas músicas.
Para isso, use o "Configurações > Configurar Amarok > Coleção", marque as pastas com as suas músicas e, em seguida, use o "Ferramentas Re-escanear Coleção". Isso vai organizar as músicas com base no artista e no álbum de que fazem parte. Depois de terminado, use o "Ferramentas > Gerenciador de Capas > Buscar as Capas que Faltam", para que ele baixe as miniaturas das capas.
O Amarok utiliza um banco de dados para armazenar todas as informações sobre as músicas, incluindo o artista, o CD do qual cada uma faz parte, gênero e assim por diante. Parte das informações são retiradas das tags ID3 dos arquivos, outras são obtidas através de uma base de dados online.

Graças à combinação das duas coisas, o Amarok é capaz de reunir músicas que fazem parte de um mesmo CD (por exemplo), mesmo que elas estejam espalhadas em várias pastas diferentes. Se você tiver muitas músicas espalhadas, vai acabar percebendo que na verdade tem faixas de muitos CDs que nem imaginava que existiam :).
Conforme vai usando o programa, ele começa a reunir uma série de estatísticas, como as músicas que são mais ouvidas, o número de vezes que ouviu cada uma e assim por diante, informações que podem ser usadas na hora de criar novas playlists. Ele também oferece recursos para ouvir rádios online (ele já vem com uma lista bastante completa), podcasts, integração com serviços como o last.fm e o Magnatune, suporte a iPods e outros MP3 Players e até opções para gravar músicas da coleção direto em CD.
A interface do Amarok possui muitas opções, por isso demora um pouco para se acostumar com ele, mas o conjunto de todas as funções faz com que ele seja atualmente um dos melhores programas da área, embora naturalmente não agrade todo mundo. A organização das músicas por artistas e por CD faz sentido se a sua coleção de músicas realmente é composta predominantemente por álbuns completos, com as tags ID3 dos arquivos criadas corretamente. Se você tem um monte de arquivos soltos, a coleção dentro do Amarok vira uma bagunça.
Justamente por ser um programa complexo, o Amarok possui uma grande lista de dependências, que, além da versão correspondente do KDE e vários plugins e bibliotecas, incluem até o pacote"mysql-lite", usado para criar a base de dados local, onde ficam armazenadas as informações sobre as músicas. Apesar disso, como ele é um aplicativo bastante popular, acaba vindo pré-instalado em muitas distribuições. Nas demais, basta instalar o pacote "amarok", deixando que o gerenciador de pacotes instale junto as dependências.
O Amarok oferece suporte para iPods e outros players de áudio, oferecendo uma interface integrada, similar à do iTunes para transferir músicas. Para configurar, o primeiro passo é conectar e montar seu MP3Player, clicando sobre o ícone que aparece no desktop. No Amarok, clique no "Configurações > Configurar Amarok > Dispositivos de Mídia > Adicionar Dispositivo".
Se você tem um iPod ou um iRiver, selecione a opção correspondente no primeiro campo; caso contrário, escolha "Reprodutor de Áudio Genérico". Dê um nome para ele e indique a pasta onde ele está montado no terceiro campo. Seu MP3 é visto pelo sistema da mesma forma que um pendrive, e fica acessível através da pasta "/mnt/sdb1" ou similar.
É só verificar como ele foi detectado pelo sistema. A partir daí, você pode acessar o MP3 através da aba "dispositivos" da janela principal. Clique no "Conectar", arraste as músicas da playlist para a janela de transferência e clique no "Transferir" para fazer o sincronismo:
Outro programa com recursos similares é o Rhythmbox (www.gnome.org/projects/rhythmbox/), que utiliza as bibliotecas do GNOME. Ele se integra ao Nautilus e à barra de tarefas doGNOME, fazendo com que seja mais usado em distribuições que utilizam o GNOME por padrão, como o Ubuntu e o Fedora.
Para quem procura um player de música mais simples, no estilo do WinAMP do Windows, a opção mais tradicional era o XMMS, que, apesar de ainda ser baseado na biblioteca GTK1 e ter ficado muitos anos sem manutenção, era ainda bastante popular devido à simplicidade. O XMMS desapareceu nas distribuições atuais, onde foi substituído pelo Audacious, que oferece recursos muito similares, mas utiliza uma base de código atualizada e está sendo mantido ativamente:

A ideia central é ter acesso simples aos seus arquivos de música, sem precisar indexá-los ou ter muitas funções extras. No Audacious, você simplesmente abre os arquivos ou adiciona as músicas na playlist e as escuta, sem rodeios. Existem alguns plugins, que permitem adicionar recursos extras, como vários tipos de filtros de áudio e até suporte a alguns modelos de controle remoto (útil para quem usa o PC como aparelho de som), mas o principal ponto positivo é justamente a simplicidade.
Em seguida temos o Audacity, um gravador e editor de áudio que inclui diversos efeitos, filtros e ferramentas de edição e é bastante simples de usar. Ele é um programa sem equivalentes, pois é ao mesmo tempo muito fácil de usar e tão poderoso quanto muitos programas de edição mais profissionais. Ele é ideal para quem não é profissional da área, mas precisa de um programa de edição para uso no dia a dia.
Ao abrir o programa, você pode gravar diretamente a partir do microfone (não existe limite para o tamanho da gravação, ele simplesmente vai gravando enquanto houver espaço no HD, o que é útil ao gravar palestras e concertos) ou importar um arquivo de áudio em .mp3, .ogg, .wav ou qualquer um dos outros formatos suportados.
Usando a ferramenta de seleção (Selection Tool) você pode selecionar trechos, que podem ser removidos (tecla DEL), copiados (Ctrl+C) ou colados em outro lugar (Ctrl+V). Você pode editar os canais de áudio simultaneamente, inclusive juntando múltiplas faixas.
Se você tem uma banda de garagem, por exemplo, pode gravar voz e instrumentos separadamente (com a ajuda de um metrônomo) e depois juntar tudo usando o Audacity. Isso vai gerar uma gravação muito mais próxima da feita em estúdio, onde você pode ajustar individualmente o volume de cada instrumento, remover trechos ruins, ajustar o tempo e assim por diante.

Outro programa similar, porém voltado mais para o público profissional, é o Rezound, disponível através do gerenciador de pacotes ou no http://rezound.sourceforge.net.
Já que estamos falando sobre aplicativos de som, vou aproveitar para falar um pouco sobre outro tema importante, que são sistemas de áudio, um velho problema no Linux.
O primeiro conjunto de drivers de áudio para a plataforma foi o conjunto OSS (Open Sound System), que apesar do nome, era na verdade uma suíte comercial, cujos desenvolvedores ofereciam uma versão open-source (com algumas limitações sobre a versão comercial) que era incluída no Kernel.
O OSS era um sistema simples e que funcionava bem, mas com o tempo o desenvolvimento desacelerou e ele começou a se tornar cada vez mais defasado, com mais e mais modelos de placas de som ficando sem suporte ou sendo suportadas de forma limitada.
Surgiu então o Alsa, que trouxe uma interface muito mais complexa, porém mais elaborada. O projeto conseguiu atrair um bom volume de desenvolvedores e acabou se tornando o sistema de áudio default, substituindo o OSS. O Alsa inclui também um sistema de compatibilidade com o sistema anterior, que permite que aplicativos antigos, com suporte apenas ao OSS, continuem funcionando.
No modelo tradicional, os aplicativos que usam o som enviam o fluxo de áudio diretamente ao driver de som (que faz parte do Alsa ou do OSS) que, por sua vez, se encarrega de fazer as operações necessárias e enviá-lo à placa de som.
O grande problema é que a maioria dos chipsets de som atuais (que, assim como os softmodems, regrediram em relação a placas offboard como as SB Live, usadas há uma década atrás, passando a executar cada vez mais funções via software) não suportam a reprodução de mais de um fluxo de áudio simultaneamente, de forma que, quando a placa é acessada diretamente, você não consegue usar dois aplicativos que acessam o dispositivo de som simultaneamente (o Amarok e o Skype, por exemplo), já que apenas o primeiro consegue usar o áudio.
Surgiram então os "servidores de som", que atuam como intermediários entre a placa de som e os aplicativos, combinando diversos fluxos de áudio (de forma que vários aplicativos possam usar o som simultaneamente) e executando outras funções. Eles podem ser usados também para adicionar funções extras, como a possibilidade de usar som através da rede (um recurso usado por aplicativos de acesso remoto ou sistemas de terminais leves, como no caso do LTSP).
O grande problema com os servidores de som no Linux é que existem diversas opções e nenhum é usado por todos os aplicativos, dando origem a diversos tipos de problemas, um exemplo de falta de padronização que atrapalha a evolução do sistema.
Um dos exemplos mais conhecidos é o Arts, o servidor de som do KDE 3. Ele é usado ao marcar a opção "Habilitar o sistema de som" dentro do Kcontrol:

Embora tenha sido usado durante toda a fase 3.x do KDE, o Arts possuía diversas deficiências e acabou sendo descontinuado em 2004, o que levou os desenvolvedores do KDE a adotarem outro servidor de som, o Phonon, a partir do KDE 4.
Do lado do GNOME, o servidor mais tradicional é o ESD, usado desde as primeiras versões do desktop. Assim como o Arts, o ESD possui diversas limitações, o que levou ao aparecimento do PulseAudio, que passou a ser o servidor de som usado por padrão no Mandriva (a partir do 2008.1), no Ubuntu (a partir do 8.04) e também no Fedora, a partir da versão 8.
O PulseAudio inclui diversos recursos avançados, incluindo controles de volume independentes para cada aplicativo, o que abre as portas para algumas funções interessantes. Um programa de VoIP como o Skype poderia ser configurado para baixar automaticamente o volume do MP3 tocando no player de áudio quando você recebesse uma chamada, por exemplo.
Ele possui também uma boa arquitetura de streaming de áudio via rede, que se bem usada pelos aplicativos, pode dar origem a recursos interessantes. Um player de áudio rodando no seu notebook poderia ser configurado para usar as caixas de som do seu PC principal quando você estivesse dentro da área de cobertura da rede wireless (ou, seja, quando estivesse em casa), em vez de usar as caixinhas do próprio notebook, por exemplo.
Você pode encontrar dicas de como configurar diversos aplicativos para trabalhar em conjunto com o PulseAudio no: http://pulseaudio.org/wiki/PerfectSetup
O grande problema é que o PulseAudio sofre do mesmo mal que todos os outros servidores de áudio no Linux, que é o fato de nem todos os aplicativos estarem preparados para lidar com ele. As primeiras versões possuíam também alguns problemas de performance e de estabilidade, o que fez com que muitos ficassem com uma imagem negativa do novo sistema, depois de ter problemas relacionados a ele no Ubuntu 8.04 ou no Fedora 9, por exemplo.
Apesar dos pesares, o PulseAudio veio para ficar, o que, depois de resolvidos os problemas de transição, pode ser uma boa coisa, já que ele pode marcar, finalmente, o surgimento de um servidor de som padrão para o Linux, que seja adotado por todas (ou pelo menos quase todas) as distribuições e possa ser usado por todos (ou quase todos... :) os aplicativos.
O Phonon (do KDE 4.2), por exemplo, utiliza o PulseAudio como backend quando disponível, assim como o GStreamer, que é utilizado pelos aplicativos do GNOME, um raro caso de consenso entre os desenvolvedores dos dois ambientes.
Apesar disso, nenhuma solução é livre de problemas. Uma solução temporária, para casos em que o PulseAudio trava a placa de som, impedindo que outros aplicativos a utilizem é simplesmente matar o processo, usando o:
# pulseaudio -k
... ou, se você quiser ser mais enfático, usando o "killall pulseaudio".
Em muitos aplicativos, o default é utilizar o Arts ou o ESD sempre que possível, mas caso você esteja tendo problemas com o som em algum aplicativo em particular, experimente dar uma olhada na configuração e ver se não existe uma opção para mudar o servidor de som usado, passando a utilizar o PulseAudio:

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